A Ruivinha

ILUSTRAÇÃO feita por mim, por favor não copie.

Um beijo doce e suave. Foi só o que ela pediu. Uma ruiva esganiçada, era pobre a coitada. Só o caniço se via, quando a ladeira do colégio a mostrava sem dó nem piedade, na vergonha da puberdade. Eram mudanças da idade, bolhas de óleo quente borbulhando pelo sol na cara dela. Se perdia e achava, ria, chorava. Perdia o trem de novo. Perdeu mais uma vez.
No pátio comia sozinha, a mesma fita fininha, nos cabelos era cúmplice, das goiabas roubadas do pé do vizinho e das maldades dosoutros também. Maldade é sussurrar pelas costas. Maldade é tratar com desdém.
Porque a capiau só queria um beijo. Beijo é pedir demais? Pra quem anda tão longe donde mora? Pra quem sai das barras do pai?
Folgando as mangas costuradas, em cada canto um remendo, é retalho da vó-bisa, que não dormiu à noite fazendo. E pediu benção ao pai, ao avô e bisavó. Mãe, não senhor, só tenho a vovó — respondia ao diretor...
Calada tão simples, de pano e de palha, feita de bode, cabrito e de vaca, só não comia capim porque não era bicho, e das poucas e boas que a viam, estava calada, tão simples.
“Que beijo que o quê? Beijo nenhum vou te dar! Sai daqui sua porca infeliz, vai procurar em lavrar!”
Chorou dengosa a ruivinha, correu pela cerca sozinha. Lançou-se aos braços do pai. —
“... Não me deixe. Não quero estudar mais!”


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Dedico este texto à todas garotinhas, que como eu, descobriram as paixões em forma de bonecas de pano sem botões no lugar dos olhos.

Para Nágylla, que mesmo vindo de uma pequena cidade no interior do Piauí, criou suas próprias oportunidades, nunca deixando de alimentar o valente coração com esperança.

Comentários

  1. As vezes deixar de sonhar por determinadas coisas faz com que a gente se perca, em meio a esse enorme contingente de ideais e planos para a vida, seja ela pessoal ou compartilhada.

    Admiro pessoas como essa que você caracterizou por meio das palavras, e ainda mais pela homenagem feita, pela sensibilidade em observar o esforço de uma ou outra em ter um espaço próprio.

    Paz.

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  2. [oi, comentário sem criatividade!].O desenho tá lindo e as palavras causam um sentimento inefável (já falei alguma vez que adoro essa palavra? HSHSHHSHSSHHSSHHSH) [/oi, comentário sem criatividade!].

    PS: Amei essa música :D

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  3. Brenda. Venho por agradecer-te pelas belas palavras ao meu espaço. Lê-los em calma me anuncia a responsabilidade que tu tens por leitura em releitura, em que é cautelosa, tardia para falar e pronta para ouvir. Ouvir o sujeito da fala com tremenda sensibilidade, seria: do voltar da entrada e fechando à porta sem esmagar à maçaneta e, com passos suaves e cantar silencioso.
    Agradecida sou, utilizando sua fala, por colocá-la como 'parada obrigatória', pois por aqui há conteúdo que muito me agrada, de qualidade. Bem. Seu dote artístico é fabuloso, amei a imagem que aprecio no momento e me faz lembrar do Livro: O Pequeno Princípe e vou partilhar contigo uma parte.

    "E foi então que apareceu a raposa:
    - Bom dia - disse a raposa.
    - Bom dia - respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
    - Eu estou aqui - disse a voz -, debaixo da macieira...
    - Quem és tu? - perguntou o principezinho.
    - Tu és bonita...
    - Sou uma raposa - disse a raposa.
    - Vem brincar comigo - propôs o principezinho. - Estou tão triste...
    - Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
    - Ah! Desculpa - disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou:
    - Que quer dizer "cativar"?
    (...)
    - Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?
    - É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
    - Criar laços?
    - Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil garotos. Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.
    Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...
    (...)
    - A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
    (...)
    - Os homens esqueceram essa verdade - disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
    - Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, a fim de se lembrar".

    Beijos mil ave rara.

    Priscila Cáliga

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  4. Brenda

    Já resolvi o problema, gostaria sim que você comentasse no post correto.
    Obrigado pela visita e desculpe o transtorno.

    Abraços

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  5. Gosto de imagens assim... Fico analisando... os olhares são os que mais me incantam.! A senhorita ruivinha parece ser tão inocente e meiga, ignorada pela maioria, com um sentimento que iria crescendo a cada dia, rancor? raiva? não sei... Mas na escola ela não quer mais estar!

    Adorei a tua Fábula, se assim posso considerar o teu texto!

    -- -- --

    Pooxa, não é todo dia que se lê comentários como o seu! Muuito bom mesmo a sensação de ser confundido(a) ou comparado(a) com alguém que já foi ou ainda é importante, que no meu caso é ser chamado de professor, uma "pessoa" que mesmo tendo sua profissão desvalorizada nos últimos tempos, não deixa de ser muito importante para muitas pessoas!

    Um beijo em seu coração! ;*

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  6. olhaeuporaqui o/
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    Como eu ti disse, tô com pena dela... foi maldade o que fizeram. ó.ò

    Gostei do jeito que escreve, dos detalhes que dá.
    Ahhh e o desenho ficou legal também.
    Continue assim. :***

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  7. Amiga de Danilo? Prazer, moça...

    Nossa, muito muito linda a imagem da ruivinha. Fiquei contente de saber que foi feita por você mesmo... porque assim é de fato a ruivinha do texto, não outra tomada por empréstimo.

    Bonita a melodia que há no texto. Dele não captei tudo, confesso. Algo pelo fim me enrolou. Se soubesse o que me veio à cabeça...

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  8. Th. me pediu pra passar por aqui, estava lhe devendo, Brenda... Mas não vim por pressão, vim pela curiosidade que ele me despertou quando o encontrei nos corredores de faculdade. Bem, isso me lembra umas histórias confusas de uma autora daqui, Ângela Gutierréz. Ela, no seu livro de estréia, trabalha com essa mistura louca de ser menina-moça-mulher nesse tom prosaico-poético e relata, por diversos olhos, fases desengonçadas da sua vida. A Ruivinha tem um pouco de Flora. Leia: "O Mundo de Flora" de Ângela.

    Parabéns pela ilustração.

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  9. Adorei o texto. Eu meio que li e visualizei as coisas acontecendo, muito interessante. A ilustração é linda e o tema tb. Super beijo

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  10. ''Brenda sobre o bullying''




    Ass: Sued

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